Voava ela no espaço, que julgo ser-lhes amplo, rodeada de milhares de quadrículos que forram as paredes, por entre quadrículos maiores abaixo e a branca aspereza do tecto, ou seja, na casa de banho, penso que evitando as monumentais estruturas, cálidas, reflexantes, que se erguem lá, com alguma exuberância até para mim. Tendo já evitado outra estrutura, esta castanha e alta com uma chama no extremo, quando cruzando também os ares, precipitou-se sobre o azul das águas que residem no fundo da sanita, um fio dourado -vulgo mijo- respeitando as imperiosas leis da física, precipitou-se, glorioso à escala de tão pequeno Ser, embatendo contra a loiça branca, ao que se ergueram, contradizendo por instantes a gravidade, penso que, milhares de gotículas ricocheteando, que imperceptivelmente se voltaram a juntar ao fluxo -digamos torrente para acrescentar drama-, à torrente, que discorria rumo às águas da sanita, fundindo-se com a substância, direi cerúlea, do WC Pato -Aquazul- originando aí o pequeno milagre, talvez inconcebível para a pobre mosca, onde o azul se tornaria verde. Quem sabe fruto desta transmutação, a mosca entrou pairando um tanto ausente nesse espaço reservado ao uso da pia, e do qual, por questões de segurança, deveria forçosamente evitar, e para mal da pobre, os meus olhos… Verdadeiramente, para mal da pobre, os meus olhos, mecanismo de uma precisão verdadeiramente diabólica, que nesse momento, ao fitarem-na, despertaram em mim um instinto que nem tão pouco reconheço como vulgarmente meu, em que coordenando a trajectória da urina, com a rota esperada da mosca, cometi o vil acto de a assassinar ali , projectando-a contra o verde das águas contaminadas pelo WC- Pato Aquazul e a minha urina, e agora -na altura-, também então pelo espírito e o corpo desse Ser, que tão vilmente matei sem lhe perguntar pela família, nem sequer enquanto rodopiava na espiral suprema provocada pela descarga do autoclismo, que veio novamente apagar o verde e o crime, com aquele azul tão belo e profundo do WC-Pato Aquazul.