Quando me vi...era uma figura escassa, caminhava curvado como se o peso do tempo que carregava forçasse os ossos a ceder. Ao fundo montanhas invisíveis, incoerentes na sufocante planície circundante. Havia abutres a cantar e cadáveres a dormir mas invisíveis também.
Sentei-me numa pedra à beira de um rio, lavei a cara, bebi o rio para lavar a alma e ainda insatisfeito subi o leito agora seco. Permaneci imóvel dias e noites algures junto à defunta nascente, queimado pela chama e pelo gelo, de pele gretada como se desfiladeiros fossem,esperei e esperei...
Ao fim de algumas vidas continuei a andar,procurei um local para me deitar na homogénea planície.Então dormi e tornei-me deserto.Dormi mal,num vazio de sonhos agitados.Ao acordar a minha pele já era feita do pó do deserto, habitavam-me escorpiões em cada recanto e até debaixo das pedras do pensamento os encontrei.
Abençoado seja o seu silencio e o seu veneno, sempre maiores em tudo que as palavras do Homem e a intoxicação de simplesmente o ser.
Desde aí esperei sempre pela noite para os acompanhar.Comeram-me os olhos, o sexo e até os dentes.