Para ser sincero o veneno é belo, escorre-me pela ponta do queixo até ao pescoço, mela-me as mãos como a uma criança. O Veneno, para ser honesto, tem tons de oiro e brilha-me no corpo. E no fim das tardes de Verão, o veneno dissolve-me, canta-me da terra ressequída, sôfrega da noite, oferece-me o sufoco murmurante dos solos cobertos de asfalto. O veneno faz, enquanto eu olho o céu, as estrelas pousarem incandescentes nos meu olhos e eu nem me atrevo a pestanejar.
O veneno lapida-me, é fricção, arranca de mim o que é velho, funde-me os extremos. Cabe-lhe o lugar de diluir os mundos, rasgar a pele do espaço perpendicular à minha natureza. Ser memória por viver, inacção realizada, presente, passado e futuro mas menos, esquina de uma recta feita de gestos de dragão.